A indústria do cinema nunca para e no meio de tantos títulos, blockbusters e mega produções, fica difícil de escolher. Na maioria das vezes somos induzidos a consumir aquilo que recebe mais marketing/propaganda e com os filmes isso não é diferente. Liste aí quantos filmes que não sejam produções norte-americanas, canadenses ou britânicas (ou uma coligação que envolva uma destas) você assiste com frequência ou que chegam nas telonas do cinema? A maioria das produções menos conhecidas, quando muito, ganham espaço de exibição em cinemas mais alternativos e salas mais tímidas.

Mas é justamente sobre essas produções que vamos falar. Aos poucos elas vêm ganhando mais espaço, e quando um filme te faz pensar sobre ele horas depois de ter assistido, então é de uma preciosidade tamanha! Hirokazu Kore-eda, diretor japonês que já acumula obras interessantes e de uma sensibilidade linda, recentemente executou sua obra-prima com Shoplifters. O filme acabou de levar em 2018 a Palma de Ouro em Cannes, e concorre ao Oscar 2019 na categoria de filme estrangeiro.

 

Shoplifters é complexo e ao mesmo tempo sutil. Cercada de mistérios, a narrativa tem um final surpreendente, que é um suspiro profundo para o espectador que acompanha o drama de uma família cheia de questões psicológicas no mais clássico estilo japonês. Temas como laços familiares, pobreza, traumas e amor são abordados, e ao mesmo tempo em que se tem uma compreensão de tudo isso, muitas lacunas precisam ser preenchidas, e o espectador se sente preso por elas.

A história começa com Osamu (Lily Franky), teoricamente um operário de construções, mas que ganha mesmo a vida com pequenos furtos. Com a ajuda do menino Shota (Kairi Jyo), com quem tem uma relação pai-filho, os dois roubam de supermercados e pequenas lojas. Voltando de um desses roubos, eles encontram uma menininha sozinha na rua fria, e é quando Osamu decidi levá-la para casa e a trama começa. Outros personagens são: Noboyu (Sakura Andô), que trabalha na lavanderia de um hotel e furta itens deixados nos bolsos das roupas; Aki, que trabalha exibindo o corpo; e Hatsue (Kirin Kiki), cuja ajuda financeira vem da pensão que recebe do falecido marido. Aparentemente uma família, Osamu assume o papel de pai, Noboyu de mãe, Hatsue é a avó, Aki de tia ou irmã mais velha (não se sabe ao certo), e as crianças de filhos, Shota e Juri (Miyu Sasaki).

É no desenrolar da história que percebe-se que tudo na verdade não está claro e todos guardam segredos. A avó visita os filhos do segundo (ou outro?) casamento de seu marido sem que ninguém saiba. Juri sofria violência física na sua casa de origem, e com o tempo é revelado que Noboyu também em algum momento passado. Osamu sonha que Shota o chame de pai, e Aki usa o nome de sua irmã para criar sua persona. Apesar do drama que os cerca, não é uma história de coitadismo; há a felicidade também, que arranca sorrisos do espectador: a avó se diverte com jogos de cassino, muitos como os listados no Galobonus.pt, Osamu faz mágicas bobas para as crianças, Noboyu e Shota riem de si mesmos enquanto bebem e arrotam refrigerante, Aki deita com carinho no colo da avó, e finalmente todos estão felizes e sorrindo pulando ondas num dia de praia.

 

Ainda que toque em vários problemas sociais, a história é sobre um grupo de pessoas feridas e fragilizadas que encontraram em si uma ligação, tentando fazer o melhor que podem no dia a dia. É um filme inteligente e profundo.